Paleoarte de Raúl Martín
Hoje em dia, é possível ver imagens, esculturas e até animações realistas de animais extintos há milhões de anos e jamais vistos por nenhum ser humano. Isso só pode ser feito graças ao trabalho de cientistas e artistas que, a partir de restos fossilizados, montam verdadeiros quebra-cabeças para chegar a uma representação realista do que teriam sido animais pré-históricos. Ao trabalho artístico aplicado na reconstrução desses animais, dá-se o nome de paleoarte. Os paleoartistas funcionam como mediadores entre os pesquisadores e o público, permitindo que visualizemos mamutes e tiranossauros como se ainda estivessem na Terra.
– A paleoarte faz a paleontologia parecer mais agradável, mais acessível e, em vez de ver apenas uma ossada, hoje o público pode ver uma representação mais interessante dos animais – diz Maurílio Oliveira, paleoartista do Museu Nacional da UFRJ e um dos pioneiros da arte no país. – Ela aproxima o público e os jovens, em especial, da ciência.
Pistas
No entanto, até os paleoartistas conseguirem transformar fósseis em arte, há um longo caminho a ser percorrido. O trabalho começa com as escavações, onde os paleontólogos descobrem os ossos e guardam em moldes, que só serão abertos nos laboratórios. Nessa etapa, começa o meticuloso processo de separação, quando a rocha é removida do fóssil e os pesquisadores analisam para ver de que animal os ossos vieram, sendo ele já existente ou uma espécie nova. Com base nesse trabalho científico, acompanhado de perto pelos paleoartistas, já é possível começar a reconstrução:
– Os fósseis têm marcas que dão pistas de como e onde o animal tinha músculos, ou como deveria ser a textura da pele – explica Maurílio Oliveira. – Apenas as cores ainda permanecem um pouco vagas, porque pigmentos não se preservam. Para conseguir a cor, comparamos as condições naturais dos animais pré-históricos com os que temos hoje e criamos um padrão.
De acordo com Maurílio Oliveira, a paleoarte surgiu junto com a própria descoberta dos fósseis, pois logo os cientistas viram a necessidade do auxílio de artistas para fazer essa ponte entre a ciência e o público geral. No Brasil, no entanto, essa história é bem mais recente. Segundo Oliveira, a necessidade de explorar esse campo, antes composto por artistas estrangeiros, só ganhou realmente o país com a grande exposição “No Tempo dos Dinossauros”, realizada em 1999 no Museu Nacional da UFRJ.
Mas a paleoarte brasileira já cresceu muito desde então, ganhando mais investimentos, exposição e até mesmo reconhecimento internacional. Maurílio Oliveira, que recebeu o primeiro lugar no Congresso Internacional de Ilustração de Dinossauros em Portugal de 2005, afirma que sempre há obras brasileiras sendo expostas no exterior:
– Temos know-how, e as premiações vêm para mostrar isso – ressalta Oliveira. – Alguns países podem até ter mais recursos financeiros, mas talento não falta aqui.
No entanto, nem todo dinossauro em forma de objeto é uma obra de paleoarte.
Oliveira ressalta que, enquanto um brinquedo infantil de dinossauro tem a única proposta de entreter e, portanto, não segue um rigor científico, as esculturas da paleoarte são totalmente embasadas nas descobertas paleontológicas. Da mesma maneira, outro ícone da popularização dos animais pré-históricos, a superprodução “Jurassic Park”, de Steven Spielberg, não pode ser considerada paleoarte:
– O Jurassic Park serviu à paleontologia no que diz respeito à divulgação, pois atraiu muita atenção para o tema, mas é preciso separar as coisas – comenta Oliveira. – Eles até fizeram uma consultoria científica, mas, pelo efeito cinematográfico, acabaram retratando fatos fantasiosos, como o dinossauro que tem a “gola” de pele. Realmente, a gola é fantástica, mas não há vestígios de que tenha existido.
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Fonte: JB online ( Texto)