Quando as baleias nadavam no Saara - Parte VI
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Quando as baleias nadavam no Saara - Parte VI



Seja o que for que o Basilosaurus fazia com as pequenas pernas, a mera descoberta delas confirmou que os antepassados das baleias haviam em algum tempo caminhado, trotado e galopado em terra firme. Mas a identidade desses ancestrais ainda continuava sendo um enigma. Certas características do esqueleto das baleias arcais, especialmente os molares e os pré-molares grandes e triangulares, assemelham-se muito às dos mesoniquídeos, um grupo de mamíferos carnívoros e ungulados do Eoceno. Nos anos 1950, imunologistas haviam descoberto características no sangue das baleias que sugeriam que elas eram descendentes dos artiodátilos, a ordem de mamíferos que inclui o porco, veado, camelo e outros ungulados com dedos pares. Nos anos de 1990, biólogos moleculares que realizaram estudos genéticos dos cetáceos concluíram que o parente vivo mais próximo da baleia é um ungulado específico, o hipopótamo.
O Pakicetus é um exemplo de Mesoniquídeo
© Evolução em Foco

Gingerich e muitos outros paleontólogos, porém, confiam mais na evidência incontestável dos fósseis que em comparações moleculares dos seres vivos. E, para eles, as baleias são descendentes de mesoniquídeos. No entanto, para verificar essa hipótese, era preciso que Gingerich encontrasse um osso específico. O astrágalo, o osso do tornozelo, é o elemento mais distintivo do esqueleto de um artiodátilo, pois apresenta o formato incomum de polia dupla, com ranhuras claramente definidas nas partes superior e inferior do osso, como no caso de uma roda de polia capaz de conter uma correia. Esse formato permite aos artiodátilos maior flexibilidade e capacidade de salto que o osso em forma de polia única encontrado em outros quadrúpedes.
Esqueleto de Artiocetus
© PaleoCritti 

De volta ao Paquistão em 2000, Gingerich por fim encontrou o primeiro astrágalo de baleia. Seu aluno Iyad Zalmout encontrou um pedaço de osso com ranhuras entre os restos de uma nova baleia de 47 milhões de anos, mais tarde batizada de Artiocetus. Logo depois, no mesmo dia, o paleontólogo paquistanês Munir ul-Haq achou um osso similar no mesmo local. No início, Gingerich pensava que os dois ossos eram astrágalos do tipo polia simples das pernas direita e esquerda do animal - uma prova de que tinha razão quanto à origem das baleias. Porém quando colocou um ao lado do outro, ficou intrigado com o fato de serem ligeiramente assimétricos. Enquanto pensava sobre isso, manipulando os ossos como alguém que lida com peças de um quebra-cabeça, de repente eles se encaixam perfeitamente formando um astrágalo do tipo polia dupla. Os cientistas de laboratórios estavam certos afinal. “Essa foi uma descoberta crucial, mas bagunçou o meu coreto”, comenta Gingerich com um sorriso irônico. “Mesmo assim, agora sabemos agora sabemos de onde vêm as baleias, e também sabemos que a hipótese do hipopótamo não é totalmente uma ficção científica.”

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